Ida à França

Desde que eu descobri que viria pra Itália, há mais ou menos 1 ano e meio, o Quentin, um amigo meu francês que fez intercâmbio na UFMG me convidou para passar o natal com ele quando eu estivesse na Europa! Nesse final de ano fui então passar uns dias com ele na França. A viagem foi ótima, mas chegar até ele não foi fácil. Nada fácil. Acontece que eu moro em Siena, cidade do interior cujo acesso não é tão simples. O Quentin mora em Loudun, uma cidade 5 vezes menor que Siena cujo acesso é ainda mais difícil!

Acordei cedo porque ainda tinha que terminar de arrumar as minhas coisas. Levei minha mochila e uma mala de mão que foi bem cheia e pesada. Na hora de fechar a mochila, que estava com casaco dentro, e portanto bem cheia, o fecho arrebentou. Na verdade, ainda dava pra fechar, mas sobrou só a base do fecho mesmo, mas já estava quase na hora de sair e não dava pra eu pensar nisso. Como eu iria à pé pra estação, sai de casa às 10:30, com pouco mais de 1h de antecedência, pra poder ir com calma. Além disso ainda tinha que comprar minha passagem de trem pra Pisa, onde pegaria o avião pra Orly.



Comecei a caminhada, devagar e tranquila porque a mochila tava pesada e eu ainda estava puxando a outra mala. Mais ou menos na metade do caminho senti um estalo nas costas. A alça da mochila tinha arrebentado. Foi aquela confusão, na minha tentativa de arrumar a alça caiu tudo no meio da rua: caiu bolsa, caiu mochila, caiu tudo. Dessas coisas que acontecem só comigo... Uma mulher parou pra me ajudar, tentei arrumar a alça mas ela tinha de fato quebrado e não dava pra fazer muita coisa.

Alça quebrada depois da gambiarra feita já na França que salvou a minha vida!
Continuei andando com uma alça só, mas meu ombro estava doendo muito. Parei em uma tabacaria pra colocar créditos no meu celular e aproveitei e fiz uma gambiarra pra prender a alça arrebentada. Por um tempo deu certo. Mas aí eu sentia um estalo e um lado da mochila caía. Na hora de tentar arrumar a outra alça soltava também. Eu arrumava a alça de novo mas passado um tempo ela caía mais uma vez. A vida não tava fácil.

Alça inteira cujo gancho abria o tempo todo...
De repente, sinto uma coisa no pé. Dessa vez minha bota arrebentou. Nada que prejudicasse, porque a alça que arrebentou era puramente estética, mas eu ficava sentindo ela balançando. A caminhada foi ficando penosa, mas consegui chegar na Estação. Entrar no trem e sentar foi um alívio. Mas a viagem estava só começando...



Não tem trem direto de Siena pra Pisa, eu tive que trocar de trem em Empoli. A essa altura eu já tinha desistido de colocar a mochila nas costas e a estava carregando pela alça de cima, mas estava muito pesada e minha mão doía muito. O trem de Empoli pra Pisa era de dois andares: ou eu descia ou eu subia. Com mochila e mala nas mãos nenhuma das opções era fácil, mas subi. Chegando em Pisa eu já estava com o corpo doendo e tinha que descobrir onde pegava o ônibus pro aeroporto. A essa altura, além de tudo, eu já estava morrendo de calor então e tirei todos os casacos, o que significava mais coisas pra carregar. Comprei o bilhete e depois de rodar um pouco descobri onde ficava o ônibus, do outro lado da estação... O ônibus pro aeroporto passa o tempo todo e o trajeto é bem rápido, dura cerca de 6 minutos. Chegando, me deparei com um aeroporto lotado e completamente caótico. Apesar de não ser grande, tinha tanta gente (e eu estava sem óculos) que eu não conseguia ver onde fazia o check-in. Nada disposta a ficar rodando e procurando, fui até o guichê de informações, peguei o número do balcão do check-in e paguei 2 euros pelo carrinho de colocar malas. caro, mas valeu a pena, minha vida ficou bem melhor carregando só o carrinho. No check-in fui avisada da possibilidade do cancelamento de voos por causa de neblina, eu deveria ficar atenta. Já eram umas 16h e eu ainda não tinha comido. Comprei o sanduíche mais caro da minha vida e fui pra fila da sala de embarque que, devido ao cancelamento de voos, estava fechada. Ninguém entrava, o jeito era esperar. Depois de um tempo chamaram na fila o pessoal do meu voo e só assim consegui entrar na sala de embarque, mas tive que devolver o carrinho e voltar a carregar a mochila...


Fila do embarque
Fui direto pra fila de embarque, que também estava um caos. Vários voos da Easyjet foram cancelados e por isso tinha tanta gente lá. A situação da Transavia.com, a minha companhia, estava mais tranquila, mas o avião sequer estava lá. Chegou na hora prevista pra sair e depois de alguns minutos finalmente entramos. O avião era um Boeing 737, daqueles com três lugares de cada lado, mas estava bem vazio e eu fui sozinha. Sentei na janela e ao longo do voo vi o por do sol mais bonito da vida! Despedi da Itália em grande estilo!





Desci em Orly Sul. O aeroporto - que não é o principal de Paris - é enorme. E eu com aquela mochila pesada... Por sorte dessa vez o carrinho era gratuito e, assim que achei um, peguei! Depois peguei minha mala de mão e saí. O pai do Quentin, que eu ainda não conhecia, foi me buscar. O Quentin me falou mais ou menos como ele era, e eu avisara que estaria com casaco vermelho e mala vermelha, seria fácil me identificar. E de fato foi. Logo que saí do desembarque, ele acenou pra mim no meio daquela multidão que estava no aeroporto esperando os outros passageiros. Pegou a minha mala de mão, mas a mochila eu preferi carregar. Ela estava incômoda demais pra eu passar esse incômodo pra alguém... Pegamos um ônibus até Paris e de lá pegamos um trem até a estação de Austerlitz, onde eu pegaria o trem pra Tours, onde encontraria o Quentin. O pai do Quentin me ajudou demais, não só com as malas, mas comprou minha passagem e me deixou no trem.



Toda trabalhada no vermelho!
No trem conheci uma francesa mais ou menos da minha idade e fomos conversando (em inglês) durante parte do caminho. O problema é que eu teria que trocar de trem em Orléans. Pelo que eu havia entendido era a parada final daquele trem, o que facilitaria as coisas. Em certo ponto da viagem um monte de gente levantou e ouvi alguma coisa de Orléans, mas não entendi muito bem. Perguntei para a menina do meu lado e ela disse que de fato estávamos em Orléans. Desci do trem. Eu e minhas malas... Estava bem deserto e eu fiquei meio confusa. A menina (cujo nome eu não lembro) não sabia onde eu deveria pegar o outro trem e perguntamos pra uma mulher que trabalhava na estação que disse que eu estava na estação errada... Por sorte aquela parada era mais longa e o trem ainda estava ali. Acontece que Orléans tem duas estações e eu deveria descer na seguinte, que era a principal e, de fato, a última. Subi de novo com minhas malas. Chegando em Orléans gastei toodo o meu francês pra perguntar qual era o trem para Tours e fui até ele. Mala em uma mão, mochila na outra. E minha mão doía cada vez mais e eu não estava suportando a dor. Eu olhava pro trem e ele parecia a quilômetros de distância. Eu trocava a mochila de mão, mas não adiantava. As duas estavam doendo muito. Mas eu pensava que se perdesse o trem seria pior, então não podia parar de andar. Quando entrei no trem, sentei no primeiro lugar que eu vi, um daqueles banquinhos mal amados perto do banheiro. Eu realmente não tinha mais forças pra carregar minha mochila por mais meio metro. Em um certo ponto da viagem o trem esvaziou e eu fui pra um canto um pouco menos mal amado e um pouco mais longe do banheiro. Coloquei minha mala em frente ao banco e estiquei minha perna. Eu estava morta de cansaço...


O banquinho do banheiro
O segundo banco
Cheguei em Tours às 22h. Eu já estava morta de cansaço... Desci do trem, praticamente arrastando minhas coisas. Minhas mãos doíam muito! Minhas mãos já estavam vermelhas e cheia de calos... Eu estava sem óculos e com sono então custei a ver o Quentin correndo na minha direção! Larguei tudo e demos um abraço forte e apertado que foi revigorante! Há muito tempo eu não dava/recebia um abraço desses! Ele me ajudou com as malas, as colocamos no carro e fomos comer. A viagem ainda não tinha acabado. Ficamos mais ou menos 1h em Tours comendo, descansando e colocando os assuntos em dia. Depois fomos de carro até Loudun, finalmente, meu destino final. Chegamos em casa lá pra meia-noite e eu não tinha força pra mais nada. Fui direto pra cama dormir... O dia foi longo!

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