Eu mudei de cidade no meio da pandemia de coronavirus! - Parte 1

Depois de toda a retrospectiva que fiz no  final do ano passado, uma das minha metas era voltar a escrever. Bem, já estamos em abril, abril de um ano bem atípico, e acabou não saindo nada! O que houve nesse meio tempo foi BH alagada, cerveja Belorizontina e uma pandemia de proporções nunca vistas.

Ano passado passei no concurso para trabalhar em Curitiba e eu sentia que minha mudança aconteceria entre março em abril, embora não tivesse certeza de nada. Minha vida em 2020 foi estacionando aos poucos, o que foi um pouco angustiante. Início de semestre é sempre um período de renovação de alunos, mas dessa vez, embora tenha recebido ligações como nunca, não aceitei nenhum novo aluno, o que diminuiu minha carga horária (e o dinheiro) consideravelmente. Ao mesmo tempo, embora tenha feito inscrição em uma pós-graduação que começaria no dia 04 de abril (olha só... hoje!), não podia fazer planos em Curitiba porque não sabia quando mudaria. No final de janeiro estive na cidade para assinar meu contrato e embora houvesse uma previsão de ser chamada em um mês, não havia nenhuma certeza. 

Considerando o fato de que fevereiro é um mês curto, embora eu tivesse uma certa esperança, era pouco provável que eu fosse chamada pra começar em março, então eu tinha quase certeza que seria abril. Digo quase, porque eu só teria certeza no dia que recebesse a ligação me chamando pra começar. 

Aproveitei a viagem de janeiro para olhar apartamento, apaixonei com um e não pensei duas vezes antes de me precipitar e alugá-lo. Ainda que eu fosse “perder” um mês de aluguel, era exatamente o que eu queria, então não quis perdê-lo. 

Eis que aparece um tal de coronavirus, láááááá na China. Mas esse bichinho começou a espalhar e chegou na Itália, onde fez um estrago enorme. Tão grande que a Itália parou. E o tal vírus chegou no Brasil, que aos poucos também foi parando. Se por um lado eu defendia o isolamento (depois de um ceticismo inicial), por outro minha situação ficou cada vez mais incerta. Eu estava sendo contratada pelo Governo Italiano e a Itália estava parada. Além disso estava sendo contratada para trabalhar no Brasil, e o Brasil estava parando também. A vida em BH já tinha parado, somente os serviços essenciais continuavam funcionando. Os consulados italianos aqui no Brasil, por sua vez, já haviam interrompido a maior parte dos serviços, inclusive qualquer atendimento ao público, e estavam trabalhando com escala mínima. Ou seja, minha contratação parecia cada vez mais distante e eu sinceramente achava que não aconteceria nada ainda no primeiro semestre. 

Até que no dia 23 de março, uma segunda-feira, no auge da epidemia na Itália, e quase no auge aqui no Brasil, recebo a tão esperada ligação me chamando para assumir dia 01/04. Foi o maior susto!
Por mais que eu já estivesse programando a mudança há alguns meses, eu realmente não esperava ser chamada naquele momento e de repente parecia que eu tinha mil coisas pra resolver agora que a hora tinha chegado, sendo que a principal delas era a ligação da luz do apartamento e combinar de pegar as chaves, para poder comprar a passagem. Eu já estava tentando pedir a ligação da luz desde o início do mês mas não estava conseguindo. Além disso, meu cartão de crédito foi bloqueado por tentativa de fraude e eu precisava colocar minha vida em duas malas.

No início fiquei pensando se passava o final de semana em BH ou se ia pra Curitiba antes, mas as notícias começaram a me deixar apreensiva: voos sendo cancelados, viagens de ônibus proibidas e fui ficando cada vez com mais medo de não conseguir chegar e resolvi ir o quanto antes. Assim que ligaram a energia do apartamento, na terça, comprei minhas passagens. Já não encontrei passagens pra quarta nem quinta (as únicas disponíveis chegariam em Curitiba só à noite e estavam caríssimas) mas consegui uma pra sexta de manhã, por 11.900 milhas e comprei sem pensar duas vezes. Também não havia voos para o final de semana e no dia seguinte a Gol anunciou que cortaria 92% dos voos e a operação com somente 50 voos diários. 

Passei o resto do tempo arrumando malas. Além da mala de mão, comprei outras duas bagagens de 23 kg. Eu chegaria em Curitiba direto no meu apartamento, com cama, sofá, eletrodomésticos mas sem nenhum utensílio dentro. Se em um contexto normal já seria difícil ter que sair logo pra comprar tudo, em tempos de coronavírus, com o comércio fechado, a coisa ficaria ainda mais difícil, então, graças à minha mãe, que me deixou fazer uma limpa na casa, e aos presentes que ganhei, consegui trazer um kit de sobrevivência com uma toalha, um prato, um conjunto de talheres de plástico, caneca, uma panela, algumas facas, coisas de banheiro, edredom, um conjunto de roupa de cama, e um travesseiro pequeno. Trazer essas coisas foi essencial, mas não sobrou muito espaço e tive que deixar muita coisa pra trás, dentre roupas, sapatos, cremes e não consegui trazer nem mesmo o livro que estava lendo.



Mas até aí estava dando tudo certo. E eu esperava que continuasse assim.

Comentários

  1. Certo, certo... mais ou menos, né? Como colocar um lar com roupas, utensílios e enxoval em duas malas de 23kg? Ah! E uma mala de mão com 10 kg? Só subindo nas malas, né?? Rsrsrs

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  2. Conceito de perrengue chique devidamente atualizado. Amando seus relatos!

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