Conversa de viajantes
Oi, gente!
Ontem eu estava conversando com meus pais sobre o blog e tal. Enquanto eu estou no maior dilema sem saber exatamente como e quando vai ser minha viagem pra Itália, eles viajarão pros Estados Unidos sexta-feira e ficarão um mês. Estou morrendo de inveja, mas tudo bem, eles merecem!
Em certo momento meu pai disse algo tipo "nós vamos viajar e podemos contar coisas legais pra você colocar no blog!" Agradeci, achei interessante a ideia, mas ponderei que o legal mesmo é escrever sobre lugares que fui, sobre coisas que vi e situações que vivi, senão fica artificial, meio com cara desses guias prontos que encontramos nas livrarias ou no próprio Google. Nada contra, mas não é a ideia do meu blog. Enfim, com esse papo todo lembrei de uma crônica do Stanislaw Ponte Preta que tem tudo a ver com isso! Ela está no livro Histórias Divertidas, da coleção Para Gostar de Ler. É bem curtinha e leve, vale a pena ler!
CONVERSA DE VIAJANTES
Stanislaw Ponte Preta
É muito interessante a mania que têm certas pessoas de comentar episódios que viveram em viagens, com descrições de lugares e coisas, na base de “imagine você que...”. Muito interessante também é o ar superior que cavalheiros, menos providos de espírito pouquinha coisa, costumam ostentar depois que estiveram na Europa ou nos Estados Unidos (antigamente até Buenos Aires dava direito à empáfia). Aliás, em relação a viajantes, ocorrem episódios que, contando, ninguém acredita.
O camarada que tinha acabado de chegar de Paris e – por sinal – com certa humildade, estava sentado numa poltrona, durante a festinha, quando a dona da casa veio apresentá-lo a um cavalheiro gordote, de bigodinho empinado, que logo se sentou a seu lado e começou a “boquejar” (como diz o Grande Otelo):
- Quer dizer que está vindo de Paris, hem? – arriscou.
O que tinha vindo fez um ar modesto: - É!!!
- Naturalmente o amigo não se furtou ao prazer de ir visitar o Palácio de Versalhes.
- Não. Não estive em Versalhes. Era muito longe do hotel onde me hospedei.
- Mas o amigo cometeu a temeridade de não ficar no Plaza Athénée?
O que não ficara no Plaza Athénée deu uma desculpa, explicou que o seu hotel fora reservado pela Cia. onde trabalha e, por isso, não tivera escolha.
- Bem – concordou o gordinho -, o Plaza realmente é um pouco caro, mas é muito central e há outros hotéis mais modestos que ficam perto do Plaza. – E depois de acender um cigarro, lascou: - Passeou pelo Bois?
- Passei pelo Bois uma vez, de táxi.
- Mas meu amigo vai me desculpar a franqueza; o amigo bobeou. Não há nada mais lindo do que um passeio a pé pelo Bois de Boulogne, ao cair da tarde. E não há nada mais parisiense também.
- É... eu já tinha ouvido falar nisso. Mas havia outras coisas a fazer.
- Claro... Claro... Há coisas mais importantes, principalmente no setor das artes – e sem tomar o menor fôlego: - Visitou o Louvre?...
- Visitei.
- Viu a Gioconda?
Não. O recém-chegado não tinha visto a Gioconda. No dia em que esteve no Louvre, a Gioconda não estava em exposição.
- Mas o senhor prevaricou - disse o gordinho, quase zangado. – A Gioconda só está em exposição as quintas e sábados e ir ao Louvre noutros dias é negar a si mesmo uma comunhão maior com as artes. Passou uma senhora, cumprimentou o ex-viajante e, mal ela foi em frente, nova pergunta do cara:
- E a comida de Paris, hem amigo? Você jantava naqueles bistrozinhos de Saint-Germain? Ou preferia os restaurantes típicos de montmartre? Há um bistrô que fica numa transversal da Rue de...
Mas não pôde acabar de esclarecer qual era a rua, porque o interrogado foi logo afirmando que jantara quase sempre no hotel. E sua paciência se esgotou quando o chato quis saber que tal achara as mulheres do Lido.
- Eu não fui ao Lido também. O senhor compreende. Eu estive em Paris a serviço e sou um homem de poucas posses. Quase não tinha tempo para me distrair. De mais a mais, lá é tudo muito caro.
- Caríssimo – confirmou o gordinho, sem se mancar.
- O senhor, naturalmente, esteve lá a passeio e pôde fazer essas coisas todas – aventou, como quem se desculpa.
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