Sempre que falo que
morei um tempo na Itália, uma das primeiras perguntas que me fazem é sobre a
comida: e a pizza? E macarrão? É tudo tão bom mesmo? SIM. A comida italiana é
simplesmente sensacional! Já comentei alguma coisa a esse respeito aqui no
blog, mas a comida italiana é extremamente simples, tudo na medida exata. Não é
todo mundo que gosta, tem quem se decepcione, mas definitivamente não foi o meu
caso!
No início da viagem
senti muita falta da comida brasileira, principalmente arroz e pão de
queijo. Arroz eu sei fazer e no início do intercâmbio, que eu cozinhava mais, fazia sempre. Pão
de queijo não teve jeito mesmo! Minha salvação foi minha professora que levou
polvilho pra mim de Natal e serei eternamente grata por isso! Mas o fato é que
aos poucos o corpo foi acostumando ao novo ritmo. Vez ou outra eu fazia alguma coisa brasileira, mas pouco a pouco aprendi a
viver bem sem arroz. Sem pão de queijo nem tanto.
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Montagem: Ana |
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Descabelada fazendo pão de queijo! |
A grande surpresa das pessoas ao me reencontrarem na volta
foi ver que emagreci, e não foi pouco: foram 7kg a menos. "Você não comia?" Comia. E muito. Eu tinha uma balança
no banheiro, então pude ir controlando. Nunca deixei de comer nada na Itália
por causa de peso, acontece que emagreci muito quando cheguei, nesse período de
adaptação, e depois meu peso naturalmente estabilizou, mas não fiz regime
nenhum.
A primeira diferença
marcante no que se referia a hábitos alimentares é em relação ao café da manhã:
a maioria dos italianos come doce de manhã! O café da manhã típico é um
croissant (cornetto) recheado e um
cappuccino. Inclusive, não ouse pedir um cappuccino depois de 11h da manhã. É
quase uma heresia! Certa vez passamos no bar antes do almoço, era meio-dia, e
uma pessoa que também costumava frequentá-lo apareceu: “Ciao, ragazzi! Eu sei
que é meio estranho, que já tá tarde, mas eu não tive tempo de comer nada ainda
e queria pedir um cappuccino...”. Eu que amo doce achava legal a ideia de comer um cornetto al cioccolatto antes de ir pra faculdade, mas depois que deixou de ser novidade já não me parecia mais tão apetitoso.
Falando em bar, o bar
italiano não é a mesma coisa daqui do Brasil. Bar na Itália é o lugar onde as
pessoas vão tomar um café. De manhã, um cappuccino e um cornetto. À tarde,
espresso. À noite, um spritz ou prosecco. Mas não é o lugar onde as pessoas vão
se embebedar. E passar o dia no bar que tinha na esquina da minha casa "fofoqueirando" com a Ana e com os meninos era um dos nossos programas preferidos. E lá fizemos nossos melhores amigos, tanto os proprietários quanto outro frequentadores de sempre.
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Marrocchino |
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Thè (Chá!) |
Sobre as outras
refeições: o que eu mais gostei na gastronomia italiana foi o fato de não
misturarem tudo no mesmo prato. Essa história de misturar salada, arroz,
feijão, macarrão (com dois tipos de molho diferente, óbvio) e purê de batata
(ufa!) não existe por lá. Geralmente, nos restaurante é servida uma entrada
(antipasto) e pode-se pedir presunto, salames e queijos diversos, mas sempre tem um pão pra acompanhar. Em
seguida o primeiro prato (il primo) que é a massa e depois o segundo (secondo)
que é a carne e um acompanhamento (batatas, salada ou algo assim). Por fim,
para quem aguentar, a sobremesa. E pra beber? Água ou vinho. Pela primeira vez não fui julgada ao pedir água pra acompanhar minhas refeições!
Durante a semana eu e
a Ana comíamos na mensa, o restaurante universitário, que era
relativamente gostoso e barato.
Nos finais de semana comíamos em algum restaurante.
Experimentamos alguns, mas no fim das contas revezávamos nos nossos
restaurantes preferidos. Quando queríamos carne, ìamos à Osteria Bocon del Prete (1) que
era caríssima, então não dava pra ir sempre, mas a comida definitivamente valia
o preço. O problema é que não abria domingo e foi uma decepção enorme descobrir
isso! Quando queríamos comer hambúrguer, Te ke voi? (2). Frequentemente íamos lá
também para comer um doce. A Ana quase sempre pedia cheesecake de Nutella e eu
Panna Cotta, sempre de Nutella. Pizzaria, naturalmente, tinha aos montes.
Quando queríamos pedíamos fatia em uma das pizzarias próximas à praça. Por fim,
tinha dia que queríamos macarrão e aí tínhamos duas opções: a pizzaria 4 venti
(ou 24 Irmãos como era carinhosamente chamada por nós...) que ficava pertinho
de casa e por isso era bem conveniente ou íamos ao Il Vinaio di Bobbe e Davide,
que merece um parágrafo a parte.
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(1) Polenta con salciccia. Melhor polenta da vida!
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(1) Manzo con patate arrosto |
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(2) Te ke voi?
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(2)
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Cheesecake com Nutella
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Panna cotta com Nutella |
Descobrimos o Vinaio
meio por acaso, mas, além da comida boa, criamos quase que um laço afetivo com o lugar. A
história é a seguinte: quando o pai da Ana estava lá, precisávamos passar no
supermercado pra repor um monte de coisa. Acontece que o supermercado maior e
mais barato ficava na Estação de trem e eu tinha aula até 13h. Combinamos que eles me
encontrariam depois da aula, subiríamos a Via Camollia em direção à Estação,
entraríamos em um restaurante qualquer no caminho (sabíamos que tinha vários!)
e depois iríamos ao supermercado. O problema é que fomos em um péssimo horário
e todos os restaurantes estavam lotados. Até que vimos o Vinaio e resolvemos
fazer nossa última tentativa. E não é que conseguimos entrar? O ambiente é super aconchegante e os atendentes simpaticíssimos! Eu pedi um Pici al
Ragù e a Ana um Pici Cacio e Pepe. Ragù é todo molho de tomate com carne, o que
a gente chama de “à bolonhesa”. O ragù alla bolognese è o feito com carne de
boi, mas tem vários tipos de ragù. Já “cacio e pepe” é um molho de queijo com
pimenta. Por fim, pici é uma massa típica de Siena, que parece um spaghetti,
mas mais grosso e mais firme. O fato é que eu nunca comi um macarrão tão bom!
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Pici al ragù!
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Mais uma vez me chama atenção a simplicidade: o molho não tinha montes e montes
de ingredientes, mas apenas o molho de tomate, a carne e tempero na medida
certa. Depois desse dia voltamos algumas vezes lá e pedíamos sempre o mesmo
prato: Pici al ragù e Pici cacio e pepe. A Ana chegou a trocar um dia, eu bem que quis, mas o vício no Ragù não deixou! Como eu disse, o restaurante ficava próximo à Porta
Camollia, que era do outro lado da cidade, então caminhávamos cerca de 30 a 40
minutos pra chegar lá, mas sem dúvida valia a pena!
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A parte verde é o centro histórico de Siena, ou seja, a cidade toda. Eu morava no quadrado azul embaixo à esquerda. A Ana à direita. A praça é a estrela no meio e a Estação é a estrela no alto. O Vinaio é o quadrado azul na parte de cima do mapa. |
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